sábado, 28 de abril de 2007

Num Sonho de Águas Claras

eu quero a luz em vez de sombras
de argamassas e betão
mais quero o espaço em vez do vulto
que se avulta em alicerce
e pela arte de outro traço
desenhar outra morada
em delicado e puro gesto
pela mão do criador

os meus olhos adormecem
num sonho de águas claras
se morre o peixe e o verde seca
seca o verde deste chão
no degelo de outro mundo
quando é mais amargo o ar
e mais se alaga a terra ao fundo
e mais se alonga e sobra o mar

ir ao encontro outra vez
do perfume dos limões
olhar a sombra destes prados
em carmesim de cerejas
pela frescura das laranjas
pelo sabor de tangerinas
saborear teus lábios rubros
em leves tons de framboesa
depois
descobrir
depois
um astro em pomar de cores
sombreado pelas plantas
cheio de gente feliz
feliz tanto quanto eu sou
p’lo aroma da flor dos ramos
e pela serena presença
daquela mulher que eu amo

Fausto Bordalo Dias : A Ópera Mágica do Cantor Maldito

4 comentários:

Anónimo disse...

Comprei pipocas.
Só falta o filme.

maria disse...

Só uma pequena questão.

Se neste (belíssimo) poema se fala (para além de amor) de limões, cerejas, laranjas, tangerinas e framboesas, porquê a fotografia das maçãs?

Deve-me estar a escapar alguma coisa…

encapuzado extrovertido disse...

é só um pomar...

maria disse...

"os meus olhos adormecem
num sonho de águas claras"


[uma injustiça teres esquecido esta parte do poema]

A nova foto está ambígua.
Cereja ou Maçã do pecado?