segunda-feira, 16 de maio de 2005

pag. 89

"...Ao pôr-do-sol, saímos. Caminhámos de mãos dadas dentro daquele subúrbio espectral, quase sempre em silêncio, escutando o som dos nossos passos, confiando àquele mundo nocturno os nossos pensamentos. Nunca afrouxei a pressão da minha mão, nem ela afrouxou a sua. Parecia-me estranho ter ao lado aquela mulher que não conhecia muito bem, e que, ainda assim, sentia tão íntima. Maquilhara-se para sair. Eu espreitara-a enquanto, debruçada sobre um pedaço de espelho, decalcava apressadamente os contornos daqueles traços que lhe deviam parecer demasiado frágeis. Aquela maquilhagem, os sapatões onde se tinha empoleirado, o cabelo descolorado...Não havia uma única coisa nela que correspondesse aos meus gostos... E todavia era ela, Itália , e gostava de tudo nela. Sem saber a razão. Naquela noite, ela era tudo aquilo que eu desejava..."

NÃO TE MOVAS

(Maragaret Mazzantini)

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